O 2º Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior: O Direito à Diferença, realizado entre os dias 29 e 31.mar.2023, reuniu especialistas de diversas partes do mundo para discutir estratégias de inclusão no ensino superior, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de Sao Paulo (USP).
Com o objetivo de promover a inclusão e a diversidade no ensino superior, o simpósio contou com mesas-redondas e palestras que abordaram temas como acessibilidade, inclusão de pessoas com deficiência, diversidade étnico-racial e de gênero, entre outros.
O evento foi organizado pela Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (Ania/BR) em parceria com a Faculdade de Direito da USP e a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD). Entre os palestrantes estavam professores e pesquisadores renomados da Unicamp, Universidade de Stanford, UFMG, Universidade de Sevilha, USP, Unifesp, PUC/Campinas, UEM, Hospital Sírio Libanês e Hospital Albert Einstein.
Durante o simpósio, foram discutidas iniciativas bem-sucedidas de inclusão no ensino superior em diferentes países e diferentes realidades, além de serem apresentadas pesquisas e projetos que visam promover a diversidade no ambiente acadêmico, bem como melhorar a qualidade de vida de pessoas autistas e com doenças raras. Também foram debatidas questões relacionadas à infraestrutura e às políticas públicas necessárias para garantir a inclusão de todos os estudantes.
A organização do evento
A partir de estudos realizados pela Universidade de Cornell (EUA) com dados de mais de 70 nações, constatou-se que leva-se em média 17 anos entre o momento em que uma temática é debatida na universidade até o momento em que ela se efetiva na vida da população. Esse hiato de quase uma geração resulta na consolidação de políticas públicas muitas vezes obsoletas e dissonantes das aspirações do público-alvo. Por essa razão, a coordenação do Simpósio optou em aplicar ao evento uma abordagem translacional, baseada na teoria bioecológica do desenvolvimento de Urie Bronfenbrenner, que pode reduzir a morosidade intrínseca ao processo em cerca de 10 anos.
A abordagem de Pesquisa Translacional (PT) visa conectar pesquisadores, profissionais, formuladores de políticas e membros da comunidade em várias combinações com o objetivo de criar melhores pesquisas, políticas, programas e práticas. O processo de PT pode ser aplicado a qualquer área de estudo, qualquer problema ou programa comunitário ou qualquer processo de criação de políticas governamentais e políticas educacionais.
Essa metodologia enfatiza a importância de compreender as interações complexas entre o indivíduo com deficiência e o ambiente em que ele vive, incluindo as interações entre o sistema micro (singularidades individuais), meso (família, escola, faculdade e outras instituições) e macro (sociedade em geral e políticas governamentais).
Além disso, a abordagem translacional enfatiza a importância da participação da comunidade e das pessoas com deficiência na construção de políticas públicas. Isso inclui a identificação de necessidades específicas, a avaliação de políticas implementadas e a participação em processos de tomada de decisão. A abordagem translacional também destaca a importância de abordar as barreiras sociais e culturais que impedem a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Isso inclui a conscientização pública sobre as capacidades e habilidades das pessoas com deficiência e a criação de um ambiente inclusivo em que essas pessoas sejam valorizadas e respeitadas.
Nesta abordagem, os cientistas envolvem a comunidade que vivencia a experiência concreta, ou seja, o debate é feito a partir da realidade. A partir daí as questões problematizadas são imersas nas teorias de pesquisas e revertidas para a comunidade na forma de práticas. Essa abordagem leva em consideração o conhecimento da comunidade e garante que os pesquisadores estejam examinando questões urgentes e úteis para o público-alvo.
Depois que as descobertas de um projeto fruto de uma PT são implementadas em um programa comunitário, a avaliação é uma importante etapa de acompanhamento para garantir que os resultados previstos sejam atualizados no mundo real. Fazer uma avaliação extenuante de um programa pode levar a outro ciclo de pesquisa e avaliação. A pesquisa translacional é um diálogo contínuo e vivo entre pesquisadores e comunidades, mantendo-os conectados ao longo do tempo
Protagonismo
A representação do público-alvo foi constituído por expoentes da defesa dos direitos das pessoas autistas e com deficiência como Sophia Mendonça (@mundo.autista), Gabriela Guedes (@souatipicapreta), Breno Ataide Ferreira Garcia, Andressa Samanta Silva (@dessasam), Thomás Levy (@thomblevy), Carol Souza (@carolsouza_autistando), Pierpaolo Negri (@pierpaolonegri), Camila Tapia (@camilatapia), Márcia Faria (@marciagraffaria), Ariani Queiroz de Sá (@souariani), Lais Ferro Fernandes (@fernandeslaisferro), Amanda de Oliveira Soares (@amiolliveira), Laís Nunes (@comportamentoediversidade) e Naira Rodrigues (@nrfono) e Guilherme de Almeida (@autistasbrasil).
Os estudantes Silvano Furtado da Costa de 23 anos (@silvanoxfurtado), graduando em Direito na USP e Arthur Ataide Ferreira Garcia de 20 anos (@arthur_ataide_ferreira_garcia), graduando em medicina pela UNIMES receberam o reconhecimento das instituições que estão vinculados pelo desenvolvimento de projetos pioneiros de inclusão em suas respectivas instituições de ensino superior.
Resultados do Simpósio
O 2º Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior: O Direito à Diferença foi uma oportunidade única para que pesquisadores, estudantes, gestores universitários e representantes de organizações da sociedade civil pudessem discutir e aprender sobre estratégias e iniciativas de inclusão no ensino superior. A diversidade é fundamental para a construção de um ensino superior mais justo e igualitário, e eventos como este são essenciais para fomentar o debate e promover mudanças significativas na área.
Um dos principais resultados do evento foi a criação do grupo de pesquisa “Todos Nós”. O grupo tem como objetivo principal promover a inclusão no ensino superior, por meio de pesquisas e projetos que visam identificar e superar as barreiras que impedem a diversidade de estudantes de ingressarem e permanecerem no ambiente universitário. O grupo é composto por pesquisadores de cerca de 40 instituições de ensino superior, tanto públicas quanto privadas, o que proporciona uma visão ampla e diversificada sobre o tema.
Entre as atividades desenvolvidas pelo grupo estão a realização de estudos sobre as políticas de inclusão adotadas pelas instituições de ensino superior, a análise de dados e indicadores que apontam para a existência de desigualdades na educação superior e a elaboração de propostas de intervenção que possam contribuir para a inclusão de grupos historicamente excluídos.
O grupo de pesquisa “Todos Nós” tem como um de seus principais referenciais teóricos o trabalho da professora Teresa Mantoan, reconhecida por sua defesa implacável para a inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular. A partir desse exemplo, o grupo busca desenvolver pesquisas e projetos que visem a inclusão de todos os grupos historicamente excluídos do ensino superior.
A professora Teresa Mantoan é conhecida por suas reflexões e ações em prol da educação inclusiva, que tem como princípio fundamental o respeito à diferença e singularidade humana. Seu trabalho contribuiu para a criação de políticas públicas voltadas para a inclusão escolar de alunos com deficiência, além de ter inspirado outras iniciativas de inclusão social.
Assim, o grupo de pesquisa “Todos Nós” busca seguir os passos da professora Mantoan, desenvolvendo pesquisas e ações que possam contribuir para a inclusão no ensino superior de todos aqueles que historicamente foram excluídos desse espaço. A diversidade de pesquisadores e instituições envolvidas no grupo permite uma abordagem multidisciplinar e abrangente sobre a temática, buscando soluções mais efetivas e sustentáveis para a promoção da inclusão plena no ensino superior.
As instituições de ensino superior que ainda não fazem parte dessa ação, mas desejem aderir podem enviar e-mail para nos@autistas.ong.br.
Fonte: Canal Autismo